sábado, 31 de março de 2012

ENEM - Questões VII eVIII


O poema de Manoel de Barros será utilizado para resolver as questões do Enem 7 e 8.

 O apanhador de desperdícios
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
Dou mais respeito
às que vivem de barriga no chão
tipo água pedra sapo.
Entendo bem o sotaque das águas
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim um atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
                       BARROS, Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa.
                       Antologia comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.


7 - É próprio da poesia de Manoel de Barros valorizar seres e coisas considerados, em geral, de menor importância no mundo moderno. No poema de Manoel de Barros, essa valorização é expressa por meio da linguagem
(A) denotativa, para evidenciar a oposição entre elementos da natureza e da modernidade.
(B) rebuscada de neologismos que depreciam elementos próprios do mundo moderno.
(C) hiperbólica, para elevar o mundo dos seres insignificantes.
(D) simples, porém expressiva no uso de metáforas para definir o fazer poético do eu-lírico poeta.
(E) referencial, para criticar o instrumentalismo técnico e o pragmatismo da era da informação digital.
RESPOSTA: Alternativa D.

 8 - Considerando o papel da arte poética e a leitura do poema de Manoel de Barros, afirma-se que
(A) informática e invencionática são ações que, para o poeta, correlacionam-se: ambas têm o mesmo valor na sua poesia.
(B) arte é criação e, como tal, consegue dar voz às diversas maneiras que o homem encontra para dar sentido à própria vida.
(C) a capacidade do ser humano de criar está condicionada aos processos de modernização tecnológicos.
(D) a invenção poética, para dar sentido ao desperdício, precisou se render às inovações da informática.
(E) as palavras no cotidiano estão desgastadas, por isso à poesia resta o silêncio da não comunicabilidade.
RESPOSTA: Alternativa B.

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