O poema
de Manoel de Barros será utilizado para resolver as questões do Enem 7 e 8.
O apanhador de desperdícios
Uso a
palavra para compor meus silêncios.
Não
gosto das palavras
fatigadas
de informar.
Dou mais
respeito
às que
vivem de barriga no chão
tipo
água pedra sapo.
Entendo
bem o sotaque das águas
Dou
respeito às coisas desimportantes
e aos
seres desimportantes.
Prezo
insetos mais que aviões.
Prezo a
velocidade
das
tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em
mim um atraso de nascença.
Eu fui
aparelhado
para
gostar de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu
quintal é maior do que o mundo.
Sou um
apanhador de desperdícios:
Amo os
restos
como as
boas moscas.
Queria
que a minha voz tivesse um formato
de
canto.
Porque
eu não sou da informática:
eu sou
da invencionática.
Só uso a
palavra para compor meus silêncios.
BARROS,
Manoel de. O apanhador de desperdícios. In. PINTO, Manuel da Costa.
Antologia
comentada da poesia brasileira do século 21. São Paulo: Publifolha, 2006. p. 73-74.
7 - É
próprio da poesia de Manoel de Barros valorizar seres e coisas considerados, em
geral, de menor importância no mundo moderno. No poema de Manoel de Barros,
essa valorização é expressa por meio da linguagem
(A) denotativa, para evidenciar a oposição entre
elementos da natureza e da modernidade.
(B) rebuscada de neologismos que depreciam
elementos próprios do mundo moderno.
(C) hiperbólica, para elevar o mundo dos seres
insignificantes.
(D) simples, porém expressiva no uso de
metáforas para definir o fazer poético do eu-lírico poeta.
(E) referencial, para criticar o
instrumentalismo técnico e o pragmatismo da era da informação digital.
RESPOSTA: Alternativa D.
8 - Considerando
o papel da arte poética e a leitura do poema de Manoel de Barros, afirma-se que
(A) informática e invencionática são ações que,
para o poeta, correlacionam-se: ambas têm o mesmo valor na sua poesia.
(B) arte é criação e, como tal, consegue dar
voz às diversas maneiras que o homem encontra para dar sentido à própria vida.
(C) a capacidade do ser humano de criar está
condicionada aos processos de modernização tecnológicos.
(D) a invenção poética, para dar sentido ao
desperdício, precisou se render às inovações da informática.
(E) as palavras no cotidiano estão desgastadas,
por isso à poesia resta o silêncio da não comunicabilidade.
RESPOSTA: Alternativa B.
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